terça-feira, 29 de julho de 2008

ao fechar a porta

chega o momento de passar
de um quarto para o outro
deixo para trás espaço
o meu lugar ocupado contigo.
deixo sensações, cor e movimentos
lágrimas e sorrisos
que agora são memória.

fecho os olhos, fecho a porta...
é na decisão que se encontra
o segredo das consequências,
que sempre virão de forma
previsível, imprevisíveis.

e não sei quem sou
não sei por quem me tomo
sou, como todos, arrastado
pela enxurrada da vida que me calhou.
e esta é a maior certeza 
que, de forma incerta, se formou.

sábado, 19 de julho de 2008

No fim

Quando tomas consciência do

fim

O que parece é.

Quando tomas consciência da injustiça

e incoerência que é o

fim

Pelo menos acreditas.

Acreditas que sabes quem és.

Quando sentes o medo do

fim,

tudo se compõe, torna-se lógico.

Quando vives a angústia da derrota que é o

fim,

tudo tem um sentido  incontornável

que só podia ser este...

Por fim.


Quando o corpo te amarra, não tens para onde ir,

não tens o que fazer e já não te apetece dizer mais nada,

só a espera depende de ti.

De ti...

Que nunca soubeste quem foste.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

rosa sangue

imagino um quadro
de luz branca
tão branca
que ofusca a razão.
nele, uma mulher
deitada em abandono
tão só.
os braços descaídos
as pernas tão belas
um corpo perfeito
desvendado pelo vestido
transparente e branco
tão branco
que perdi o sentido de orientação.
nuns olhos tão lindos
um olhar perdido
sem ver futuro.
estendo-lhe a mão
e toco-lhe na pele ceráfica
tão branca
que toquei em neve.
senti a humidade

o abismo
a impotência.
o quadro é real!

e a realidade era vermelho
tão vermelho
como sangue vivo.


o vestido já não estava branco,
só a pele.
e veio o desejo:
imaginei ser o heroí,
aquele capaz de mudar destinos.
ela é tão jovem, merece o futuro
merece-o como todos nós.

ela não sonha, está a viver o presente.
quem não pertence aqui sou eu
o meu mundo é de rosas brancas
onde, com pouca coragem, se vive...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

insónia

paredes de gritos que me cercam
vozes ocas que me atacam
ninguém deve pedir desculpa por ter vindo ao mundo
ninguém deve ficar aprisionado ao vazio
com sensação de opressão na alma.
o mal do mundo não é culpa nossa
o nosso corpo não se mexe
nem sequer conseguimos voar.
para aqui só, de olho aberto
neste momento, tão desfazado do status mundano
como do tempo circadiano.
sinto-me cheio... de irresponsabilidade
pois nada depende de nós.
e, no entanto, gostava de tentar.


para começar,
vou contar carneiros... 1,2,3,4,...
A minha foto
Porto e Ponta Delgada, Douro - o Mar - Açores, Portugal
por cá ando... resultado da junção ocasional entre um espermatozoíde e um óvulo, nos finais de 1969, início de 1970, que deu fruto e cresceu (de forma bastante substancial) e que tem como objectivo maior: (pro)criar... ou pelo menos tentar.