domingo, 5 de abril de 2009

o corpo e a consciência

Imagina o meu corpo nu
sim! o meu corpo!
podes imagina-lo na perfeição
e dizer: que belos peitorais, que lindas coxas!
ou podes vê-lo real e dizer:
tens de fazer abdominais, que peles murchas!
tanto faz, mas imagina.
é uma estrutura simétrica, cabeça, tronco e membros.
dos pés saem raízes que penetram pela terra,
as pernas são dois cepos,
o tronco pode ser um sobreiro
de onde saem dois braços
com mãos que tacteiam o ar,
tentando tocar ou mesmo agarrar...
tudo ou nada.
o sexo não interessa! não vou descrevê-lo!
no cimo uma cabeça redonda,
dois olhos com visão de curto alcance
uma boca faminta, aberta, à espreita,
um nariz acomodado, passivo e ranhoso,
e duas orelhas a mais, já com pêlos.
este corpo é uma carapaça, escravo da gravidade.
é uma massa de órgãos e fluidos,
exposto às intempéries, brinquedo do tempo.
à sua volta o ar abafa, por baixo a terra suga.
por cima todo o peso do (seu) mundo.
como pode voar? como pode ser livre?

como pode voar, como pode ser livre,
este corpo que vive por acaso?

a maior das ironias é a consciência. a nossa consciência.
resulta do acaso do corpo estar vivo e bem estruturado.
o corpo e a consciência são um.
gera a insatisfação natural e compreensível,
resultante da aberração que é o próprio corpo,
limitado, obtuso, sem asas...
permite a dúvida, a interrogação, a resposta e a certeza.
permite seguir a tua silhueta, o teu exemplo.
os órgãos, por vezes, transformam-se em emoções.
e não estou só. permite apreender.
na cabeça os olhos alcançam o infinito,
pelo nariz entra o teu doce perfume,
a boca entre-aberta beija com paixão
e ouço murmúrios, desejos e ordens.
os braços afagam, abraçam e empurram
e as mãos tocam o concreto e o definido.
tudo tem sentido e o sexo... já importa!
as pernas e os pés levitam, numa leveza apreciada.
podemos voar, podemos ser livres!

é o sonho, é a realidade. o corpo e a consciência.
A minha foto
Porto e Ponta Delgada, Douro - o Mar - Açores, Portugal
por cá ando... resultado da junção ocasional entre um espermatozoíde e um óvulo, nos finais de 1969, início de 1970, que deu fruto e cresceu (de forma bastante substancial) e que tem como objectivo maior: (pro)criar... ou pelo menos tentar.